Origens
Para manter viva a cultura pomerana
Escola de Canguçu disponibiliza desde o ano passado a língua em seu currículos
Divulgação -
Uma forma de manter a língua viva. Este é o intuito da iniciativa de uma professora de Canguçu, que ensina a Língua Pomerana para 45 alunos do 6º ao 9º ano da Escola Municipal Carlos Moreira. A partir de atividades práticas que envolvem o uso da língua, os estudantes, a maioria já falante da linguagem, podem aprender, também, a escrever em pomerano, que tem base germânica e saxã. A escola foi a primeira municipal no Estado a ter a disciplina no currículo.
A iniciativa é de Tanise Stumpf que trabalha há 23 anos como professora na escola municipal. Ela conta que o interesse começou após uma visita do professor Ismael Tessman a um evento na cidade, no qual houve a indicação de que a língua falada pelos presentes seria o pomerano. Com isso, houve a disposição em trabalhar com o tema, a partir da indicação de material sobre a língua, como um dicionário de Pomerano e Português. De 2013 a 2017, a disciplina foi pioneira na rede estadual de ensino, na Escola Estadual de Ensino Médio João de Deus Nunes, onde a professora também atuava. “Não tinha a dimensão de que eu era a única que fazia este trabalho”, afirma.
Desde 2018, a língua passou a ser ensinada na Escola Municipal Carlos Moreira, também pioneira em âmbito gaúcho. Conforme Tanise, quase a totalidade dos 45 alunos em que a disciplina foi lecionada neste ano já falava a língua, mas não sabia escrever. Dessa forma, com a utilização de materiais didáticos fornecidos pela professora Lilian Stein, do Espírito Santo, o ensino do pomerano é feito de forma semelhante ao de outras línguas estrangeiras, como inglês ou espanhol. Entre as dificuldades encontradas pela professora de Canguçu, está a baixa quantidade de referências sobre o tema no país, com Lilian sendo uma das poucas que contribuem com produções. “Não é fácil, mas tenho que batalhar pela minha cultura”, afirma a professora.
Nas aulas, os alunos são estimulados a produzir músicas, vídeos e atividades que trabalhem de forma prática o que foi aprendido em sala de aula. “Também são utilizados temas comemorativos, para incentivar ainda mais”, afirma Tanise, lembrando da produção de vídeos com a temática do Natal pelos alunos. Os alunos também podem praticar o uso da língua e da cultura no Festival Estudantil da Cultura Alemã e Pomerana (Festcap), realizado anualmente, que conta com atividades como poesia, canto, dança e culinária.
A oferta da disciplina pelo segundo ano consecutivo também promoveu maior entusiasmo entre os alunos. Segundo a professora, alguns, inclusive, já compraram o dicionário de Pomerano e Português, necessário para cursar a disciplina. Para o próximo ano, a expectativa é que alunos do 5º ano da instituição de ensino também tenham contato com o pomerano. “Eles estão começando a ver a importância de ser pomerano”, revela Tanise.
Participação dos estudantes
Conforme a professora, o sucesso do ensino da língua é derivado, também, da participação constante dos alunos, que contribuem com as atividades. “Tem alguns que abraçam mesmo a causa”, destaca. Um deles é a estudante Luiza Schroder, de 13 anos, que faz parte da primeira turma que teve o ensino da língua como disciplina regular, quando ainda estava no 6º ano. A jovem afirma que tem contato com o pomerano desde que nasceu, a partir de seus pais, mas que com os aprendizados em sala de aula aprendeu também a escrever. O conhecimento em sala de aula também é repassado em casa, para os pais. “Eles me ensinaram a falar, agora eu ensino eles a escrever”, conta a jovem. Conforme a jovem, esse contato prévio com a língua contribui para a facilidade no aprendizado. Na turma de 11 alunos, apenas um não sabia se comunicar com o idioma. Apesar das dificuldades iniciais, a ajuda dos colegas contribuiu para o aprendizado do estudante. “Agora ele já sabe falar umas palavras, frases”. conta Luiza.
RS tem maior comunidade pomerana
O vice-reitor e linguista da Universidade Federal de Pelotas, Luís Amaral, explica que a Língua Pomerana é derivada de um dialeto do baixo alemão, com base germânica e saxã. O dialeto era falado mais comumente na região da Pomerânia, localizada no Norte da Alemanha, mas perdeu força ao final da Segunda Guerra Mundial, com o deslocamento dos nativos para outros locais. Segundo ele, a comunidade linguística presente atualmente no Rio Grande do Sul é a mais forte do país. “Já estão na sétima geração de falantes nativos de pomeranos”, destaca Amaral. O pomerano também é falado em comunidades presentes no Espírito Santo, em Santa Catarina e em Rondônia.
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